sexta-feira, 12 de junho de 2009

O exemplo do morador de rua

Um exemplo a ser seguido. Que essa história sirva de incentivo àqueles que, por algum motivo, foram parar nas ruas.



Aos 21 anos, dono de duas bermudas, uma calça, um tênis e três camisetas, Alex Costa Santos se prepara para ser o dono do próprio destino. Hoje cedo vai para a Universidade Católica de Brasília se matricular no curso de psicologia. A aprovação no vestibular, sonho de boa parte dos jovens, representa muito mais para o garoto que há dois anos e três meses mora nas ruas de Brasília. É a conquista da cidadania. Vindo do Mato Grosso, ele teve como primeiro endereço na capital a comercial da 306 Norte. Se alimentava do que sobrava do verdurão da rua e tomava banho escondido em um supermercado próximo. De lá, após três meses, foi para a Torre de TV. E, com um ano de Brasília, mudou-se para a plataforma inferior da Rodoviária. Vivia fazendo bicos, guardando carros ou, simplesmente, pedindo dinheiro.

O jovem teve fome e medo do futuro. Também fez uso de diversos tipos de drogas. Quando os outros meninos de rua se encontravam, eram eles que ajudavam a amenizar momentaneamente o desconforto da vida. Entre um cachimbo de crack e uma lata de tinner, aproveitava para ler. “Os caras reclamavam comigo porque eu gostava de ter minha viagem na companhia dos livros. Não ficava lá trocando idéia com eles”, lembra.

A fonte de cultura vinha das prateleiras instaladas nas paradas de ônibus da Asa Norte. Passava horas lendo tudo o que aparecia, desde poesia até textos de livros didáticos. Também lia jornais e revistas abandonados por quem passa diariamente pela Rodoviária. Foi essa mania que preparou o rapaz a superar a primeira barreira. Como não tinha concluído o ensino médio, ele procurou, no início do segundo semestre, a educação de jovens e adultos (EJA) em Taguatinga. Fez uma prova para checar se estava apto a receber o diploma.

“Lá em Barra do Garça fiz todos os estudos, mas não tinha passado nas matérias de exatas. Sempre achei química e física muito difíceis”, comenta. Logo no primeiro exame, foi aprovado. Superado o problema, pôde se inscrever para fazer o vestibular. E, na última sexta-feira, viu o nome exposto na lista de aprovados divulgada pela internet.

Superação
Mas não se engane imaginando que ser aprovado na prova da Católica foi o maior desafio enfrentado por Alex. Ter sobrevivido nos últimos 27 meses foi muito mais difícil. A história do rapaz em Brasília começa com uma grande decepção. Ele veio para cá em junho de 2006 para realizar um sonho: servir na Aeronáutica. O problema é que foi dispensado logo após chegar. “Liguei para minha mãe contando que tinha passado, quando me avisaram que não ia rolar e me ofereceram o transporte para voltar para casa”, conta. “Não quis porque fiquei com vergonha. Como eu ia voltar para casa pior do que saí?”, pergunta.

Sem ter onde ficar, caminhou durante horas e foi do 6º Comando da Aeronáutica (Comar) até a 306 Norte a pé. Lá chegando, conheceu dois meninos de rua que tinham fugido da violência de casa. Passaram a cuidar uns dos outros. Durante mais de um ano, quem conseguia comida, dividia. Quem recebia dinheiro também. Foi nesse período que conheceu as drogas, principalmente o crack. “Usei, mas percebi que estava secando e que ia morrer”, lembra.

A vida seguiu desse jeito até ser levado por outro garoto de rua para o GirAção — um projeto social que atende 60 adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade. Agora, o grupo que trabalha no projeto batalha para conseguir uma bolsa para Alex e um emprego para que o jovem consiga caminhar com as próprias pernas.

As educadoras e assistentes sociais do GirAção encontraram em Alex algo que ninguém via nele desde que saiu de casa. “Ele é um rapaz muito inteligente e ativo demais. Só precisa canalizar a energia para o bem pessoal. Até agora, ele estava fazendo mal para si mesmo”, afirma Karina Figueiredo, do Centro de Referência, Estudos e Ações Sobre Crianças e Adolescentes (Cecria). Ela destaca que, mesmo com todos os problemas, ele nunca foi parar na polícia. “O pessoal do GirAção é como anjos sem asa morando aqui na terra”, resume.

A alegria de Alex por ter passado no vestibular só não é maior do que a ansiedade de contar para a família a novidade. “Vou ver minha mãe e contar para ela e para o meu pai que eles podem ter orgulho do filho”, conta. “Minha mãe estudou até a 3ª série e o meu pai cursou o supletivo quando eu já tinha 15 anos e terminou os estudos antes de mim.”

Hoje à noite, após garantir a vaga, ele segue para Barra do Garça, sua cidade natal, para buscar os documentos. De acordo com Karina Figueiredo, do Centro de Referência, Estudos e Ações Sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), Alex foi vítima de um golpe nas ruas e está com a certidão de nascimento retida. “O problema está sendo resolvido, mas a matrícula não pode esperar”, explica.

O GirAção, projeto do Centro de Referência, Estudos e Ações Sobre Crianças e Adolescentes (Cecria) e do Movimento de Meninos e Meninas de Rua, à primeira vista não tem nada demais. Funcionando na antiga casa de passagens para idosos e para população adulta de rua, na frente do Camping de Brasília, o centro é mobiliado com mesas, sofás e camas velhos e exibe desenhos feitos crianças e adolescentes. Mas não se engane com a descrição do lugar. A importância daquele espaço não pode ser vista por olhos pouco sensíveis. E Alex fez dessa referência a sua moradia.
E assim também é os que tem passado pelo Centro de Recuperação Porta Formosa, atraves do "Projeto Porta Formosa" com o slogam "Adote um morador de rua". Entre em contato conosco e veja como funciona a nossa instituição aqui no Rio de Janeiro.

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